terça-feira, 8 de junho de 2010

Análise - Utopia e Barbárie

"Utopia e Barbárie" é o tipo de documentário que fica na cabeça por horas após acabar. Que permanece em sua mente durante alguns dias e o qual você discute assiduamente sobre com amigos no bar. Este projeto que levou 19 anos para ser concluído é o mix de trabalho duro e dedicação de Silvio Tendler e chegou mês passado aos cinemas.



A primeira coisa que o documentário faz é nos situar. Começamos com imagens do bombardeio nuclear em Hiroshima, imagens e fotos da catastofre seguem e somos apresentados a alguns depoimentos sobre a Segunda Guerra Mundial, nada gigantesco, o necessário para sabermos mais para frente por onde começou a projeção, que narra através de cerca de duas horas uma viagem através das utopias e suas respectivas barbáries pós-segunda guerra, pois utopia e barbárie são faces da mesma moeda, diz a fita.

Não há Utopia que não seja seguida de Barbárie, e para provar tal ponto somos apresentados a diversos movimentos que ocorreram nas últimas décadas e a uma geração que tentou mudar o mundo através de ideias e armas, que encheu as ruas em maio de 67, ou que tramaram contra a Ditadura Militar Brasil, e aos poucos somos até mesmo questionados sobre a nossa geração. Quais nossos ideiais? Pois bem... Pense em algo que você gostaria de mudar no mundo... Pensou? Bom, agora pense sobre o que você está fazendo para mudar isso...

Misturando cenas reais e trechos de filmes o documentário faz um paralelo sobre diversos conflitos, suas causas e resoluções. Desde a Guerra do Vietnã  e a queda do muro de Berlim ao conflito entre Argélia e França. A fita é repleta de entrevistas com personagens que vivenciaram os conflitos, como por exemplo o General vietnamita e estrategista Giap, hoje com 94 anos, que derrotou os franceses em 1954 e os americanos em 1970.

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Díficil comentar sobre uma obra tão profunda e pessoal. Certamente o documentário apresenta uma visão tendenciosa esquerdista de seu diretor, mas nem por isso deixa de lado os relatos e fatos históricos, apresenta ao espectador os fatos, aí cabe a cada um processá-los da maneira que preferir.

Um fato interessante do documentário é a utilização de trechos de filmes para ilustrar algumas idéias, como por exemplo "Setembro Chileno" e "Invasões Barbaras", o primeiro sobre a tomada do poder por Pinochet e o segundo sobre um grupo intelectual de amigos, o documentário mostra uns trechos de conversas entre eles sobre os conflitos pelos quais eles "acompanharam" de longe, através de livros e filmes.

Mas nem só de boas coisas é feito o documentário, que tem uma montagem meio cansativa, na minha opinião, bom, são mais de 50 anos de história espremidos nos 120 minutos de filme, talvez algo mais objetivo e direcionado cansasse menos, mas nada que tire o mérito da obra. Outro ponto é a parte final, sobre o conflito no oriente médio... não que não seja pertinente, mas talvez por falta de um melhor ponto de encontro com o restante da projeção tenha ficado um tanto quanto entediante.

Como eu disse, "Utopia e Barbárie" é tendencioso e algumas vezes cansativo, mas nada disso apaga o fato de ser um relato histórico bom, que acerta principalmente em relatar as diversas faces de uma geração que queria mudar o mundo com suas próprias mãos e não mediu esforços nesta tentativa, seja pela luta armada ou pelas negociações menos radicais, e tais atos são estranhos a nós mais jovens, o fervor de algumas entrevistas surpreende. Somos tão alienados, nossas principais preocupações parecem banais ao fim do documentário, e nossa geração fraca e fora de compasso, desunida talvez. "Mas estamos em um mundo muito mais pacífico", alguns dirão, será? Será que o mundo se tornou um lugar mais pacífico onde o ser humano é finalmente respeitado ou nós que fomos cegados pela globalização? Enquanto estas perguntas não são respondidas o melhor a fazer é twittar, certo?

Até mais.

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