sábado, 27 de novembro de 2010

Direção: David Yates
Roteiro: Steve Kloves


Após seis filmes que variaram entre o lastimável e razoável finalmente nós fãs de Harry Potter, que acompanhamos todos os livros, choramos com a morte do Sirius, odiamos a megera Umbridge e torcemos pela Grifinória em cada jogo de quadribol, pudemos sair do cinema após uma sessão do filme, respirar fundo e pensar: valeu a pena.

Ao contrário de todos os antecessores "Relíquias  da Morte" é idêntico ao livro, claro que uma parte ou outra saiu diferente, algumas mudanças totalmente desnecessárias, mas no geral mudanças estrondosamente aquém do que estamos acostumados na franquia.

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Harry, Rony e Hermione tem uma missão que não podem compartilhar com ninguém. Encontrar as Horcruxes, pedaços da alma de Você-Sabe-Quem, e destruir cada uma. Como destruí-las e aonde procurá-las? Estas são perguntas cujas respostas eles gostariam de ter. Sem a proteção de Dumbledore e com o mundo bruxo a mercê de Voldemort nem mesmo Hogwarts foi capaz de resistir ao comensais da morte. E como a trama sugere este filme tem um tom bem mais sombrio do que estamos acostumados a ver nos filmes da franquia Harry Potter.

Harry estar prestes de chegar a maioridade e então estará livre do rastreador, que o mantém sob os olhos do ministério da magia, logo sob os olhos de Voldermort e seus comensais. O problema de ser maior de idade é que com isso a proteção mágica de sua mãe também cederá e a casa dos Dursley já não será um lugar seguro para ninguém.

Dumbledore treinou Harry durante seis anos para aquele momento. Porém o garoto mal tinha consciência do que estava por vir junto a sua busca pelas horcruxes. Hogwarts é passado e o futuro depende dele e de seus amigos. Finalizar a missão que Dumbledore lhe concedeu é a última esperança, mesmo com todas as dúvidas que surgirão e com a desconfiança que cresce a medida que Harry descobre cada vez mais do passado nem tão claro do tutor.

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O filme isoladamente não é um grande objeto de entretenimento. Porém como parte de um todo é a abertura perfeita para o verdadeiro último filme que trará toda a ação do livro e fecha um ciclo de sete livros e oito filmes. Se você não leu todos os livros certamente se surpreenderá com a importância de alguns personagens como Dobby e Mundungo que sempre tiveram papéis importantes nos livros mas que foram totalmente esquecidos pelas adaptações cinematográficas. Por isso aos mais leigos em HP suas aparições em momentos críticos devem parecer mais capricho do que fidelidade.

David Yates deu um jeito em Harry Potter, que capengava após o quarto filme, um dos piores que tive o prazer de assistir. A partir de sua direção em "A Ordem da Fênix" a franquia mostrou que bem dirigida podia ir longe. Com ambientes mais sombrios e temas mais adultos as cenas passaram de brincadeiras baseadas em um livro infanto-juvenil para um filme que realmente mexia com o espectador, com suas emoções e suas sensações. A trilha sonora e fotografia são shows a parte e por si só valem o ingresso. Colorido em algumas cenas, monocromático em outros o filme nos guia por florestas e cidades com naturalidade e grandiosidade. E quando eu digo que esta trilha sonora é ótima não é brincadeira. Alexandre Desplat consegue com sua trilha tirar de nossas cabeças aquelas músicas fantasiosas e em alguns momentos infantis que rechearam os filmes de Harry Potter, trazendo algo mais adulto ao filme. Um trailer da trilha sonora você pode conferir aqui. Vale a pena clicar assim que terminar de ler o post!

A dinâmica deste filme também é muito diferente do que estamos acostumados. Não vemos Harry, Rony e Hermione estudando poções e defesa contra as artes das trevas enquanto nos intervalos combatem Lord Voldemort. Desde o começo os três amigos estão no mundo real, longe de barreiras mágicas e professores, lidando com novas decepções que não uma nota ruim n'um trabalho de adivinhação.  E esta fita foca muito mais a história e prepara o terreno para a grande batalha final do que mostra cenas de ação e combates. O que pode frustar alguns fãs da franquia hollywoodiana que não tem como base a história de J.K. Rowling.

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Um bom começo para a parte dois de "Relíquias da Morte", que em julho do ano que vem deve se tornar o melhor filme da franquia, aí sim, finalmente marcando o final de Harry Potter.

Quando terminei de ler o último livro em 2007 ainda havia o consolo de que outros filmes chegariam e preencheriam o vazio deixado na última página de "Harry Potter e as Relíquias da Morte". Mas e agora?

A morte é apenas uma travessia do mundo, tal como os amigos que atravessam o mar e permanecem vivos uns nos outros. Porque sentem necessidade de estar presentes, para amar e viver o que é onipresente. Nesse espelho divino vêem-se face a face; e sua conversa é livre e pura. Este é o consolo dos amigos e embora se diga que morrem, sua amizade e convívio estão, no melhor sentido, sempre presentes, porque são imortais.
William Penn, More Fruits of Solitude 

Até mais.

domingo, 14 de novembro de 2010

Análise - Tropa de Elite 2

Nossa.. não fosse a data da última postagem eu nem me lembraria quando foi a última vez que escrevi aqui. Devo isso a faculdade e ao trabalho que vêm consumindo todos os minutos e segundos da minha preciosa vida, mas enfim... tenho mais uma semana de aulas na faculdade, só de provas, e se passar, estarei formado e ganharei muito tempo para fazer tudo que não venho fazendo. Agora eu deveria estar estudando pagamentos internacionais, mas este post está em edição há um mês, vamos terminar...

Direção: José Padilha
Roteiro: Bráulio Mantovani

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Em 2010 o Capitão Nascimento tem um novo inimigo, as favelas do Rio de Janeiro não estão mais inundadas de drogas e traficantes, mas sim de policiais corruptos, o grande vilão deste filme são as Milicias e o próprio sistema.

Com alguns bons planos, ótimos diálogos e (mais) uma interpretação magnífica do incontestável Wagner Moura, "Tropa de Elite 2" é o must see nacional deste ano, ao lado de outros ótimos títulos como "As melhores coisas do mundo".

"Qualquer semelhança com a realidade é apenas uma coincidência. Essa é uma obra de ficção".

Se é assim, então está bem. Certo?


O filme se passa dez anos após o fim do primeiro filme, quando nascimento é deixado por sua esposa e com isso sua luta para sair do esquadrão se encerra, dando lugar ao conformismo. Logo no início do filme o diretor José Padilha e o roteirista Bráulio Mantovani nos mostram uma ação realizado no presídio Bangu I pelo BOPE, que acabou com a morte de inúmeros presidiários e trouxe péssimas repercussões políticas; e por isso o Coronel Nascimento e o Capitão Mathias, os dois encarregados pela ação são punidos, porém de maneiras distintas. Mathias é expulso do BOPE, e Nascimento é promovido a Sub-secretário de Inteligência do Estado. Estranho, não? Porém eficaz, ambos estavam fora do BOPE que era exatamente o que o Governador do Rio de Janeiro queria. Porém em seu novo cargo Nascimento transforma o esquadrão caveira, que passa de uma divisão abandonada para uma máquina de guerra contra o tráfico de drogas, com direito a helicópteros e tudo mais. 


O Capitão Nascimento foi um dos personagens mais interessantes que tive a oportunidade de ver na história recente do cinema nacional, denso e pesado, porém um ser humano, fascista ou não, ai é uma questão de opinião; conseguimos perceber (muito disso pela ótima atuação de Wagner Moura) um pai perdido e que ama seu filho, que sente a perda da mulher e que procura a todo custo uma válvula de escape, um lugar seguro onde pode viver sua vida, e o lugar seguro para ele são os morros, as incursões às favelas e a tensão diária da vida de um policial.

E a frente desta máquina de guerra o Sub-secretário Nascimento limpa as favelas, o tráfico inexiste e passa a uma realidade passada nas favelas do RJ, porém a sensação de dever cumprido começa a se extinguir no momento que Nascimento se vê a frente de um novo inimigo, muito mais inteligente, muito mais influente e que até o momento ele nunca havia precisado enfrentar, políticos corruptos e milícias.

Um filme profundo que mostra um novo Nascimento, desde a relação paternal com seu filho às conversas frias com sua ex-mulher, até mesmo uma pitada de ciúmes de seu novo marido, com quem ele tem uma estranha relação que durante o filme passa de ódio mútuo à necessidade mútua.

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O filme é a sequência perfeita, tão sútil quando uma metralhadora, a história passa para outro nível neste segundo filme, enquanto no primeiro víamos Nascimento sempre em sua farda preta, um verdadeiro algoz subindo os morros da favela, então pensávamos que estava tudo bem, ele havia chego e todo o mal se dissiparia. Em contrapartida, este segundo filme apresenta um novo Nascimento, engravatado, acuado em meio aos verdadeiros inimigos, no topo daquele edifício, que poderia bem ser um presidio, tanto são os criminosos que lá estão.

Se o medo de o segundo filme não corresponder as expectativas do público devido ao sucesso do primeiro filme existia, agora inexiste. Uma direção quase impecável e um roteiro bem escrito, cheio de frases de efeito, que foi um dos motivos do sucesso do primeiro filme, "Tropa de Elite 2" vai além quando pensamos em filmes nacionais, e ainda mais quando segmentamos o gênero ação.

A idéia do segundo filme vai na contramão do primeiro. Não vamos mostrar a sociedade que se afunda em drogas e no desespero, mas o sistema que a molda.

Se há ainda na sociedade a capacidade de extrair coisas boas da arte e cultura e de se sentar no sofá ao fim de um longo dia e refletir sobre o mundo e sobre as pessoas, há nessas pessoas um pouco do espírito de "Tropa de Elite 2".

Até mais, certamente menos de quatro meses.