segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Análise - Cisne Negro

Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Mark Heiman, John McLaughlin e Andres Weinsz

Cada vez que assisto um bom filme logo fico entusiasmado para escrever sobre ele, contar minha experiência e minhas opiniões sobre ele. Mas tenho percebido que a maioria, na verdade todos eles, acabam perdendo força enquanto amadurecem em minha mente. Enquanto penso em algo para escrever acabo entendo o quão pouco tenho para falar de determinados filmes e como a vontade some em outros. Enfim... Talvez seja uma fase pouco criativa. Da minha parte ou do cinema em geral. Aí é uma questão de opinião.


Cisne Negro. Quantos filmes tem um trailer fantástico e decepcionam? Este felizmente é uma exceção. Por pouco mas é. Totalmente edificado entre clichês o filme ganha mais pelas atuações do que pela direção. Darren Aronofsky sempre foi um dos diretores que eu mais admiro no cinema atual. Desde seu debut fantástico com "PI", que debocha da capacidade da mente e da ganância, ao seu amadurecimento com o seu melhor filme (na minha humilde opinião) "Requiem for a dream", onde ele consegue unir o excesso à busca pura e simples da felicidade. E em "Requiem" ele teve, assim como em "Black Swan" uma grande ajuda do elenco. Este foi o único filme em que vi Jared Leto atuar de verdade. E nem tenho palavras para comentar as atuações de Ellen Burstyn e Jennifer Connoly. Ainda que nenhuma se compare à Nina de Natalie Portman ou ao Randy "The Ram" de Mickey Rourke (The Wrestler). E apesar de este último ser o menos impactante dos filmes de Darren ele se mostra um dos mais consistentes e consagra sua carreira excepcional.

Enfim, Darren tem talento. Mas acima de tudo tem a sorte de ter sempre um casting ótimo à sua disposição.

Crua e Visceral. Esta é a montagem que Thomas Leroy (Vincent Cassel) busca para seu Lago dos Cisnes. Nina Sayers (Natalie Portman) é uma ótima bailarina, que vive uma relação conturbada com a mãe, que no passado também foi, ou pelo menos tentou ser, uma bailarina. Movida pelo desejo de superação e pela busca do perfeccionismo Nina busca seu lugar como a prima ballerine da compania. O que poderia ser apenas mais um história sobre o cruel mundo do ballet se transforma em um triller psicótico e caótico. Tentando fazer lembrar, ou mesmo dar um "quê" de Alfred Hitchcock à trama. Sem sucesso. Darren vaga por caminhões que ele não conhece e por isso se apega aos clichês do momento: a instabilidade emocional dos personagens, a ruim relação mãe-filha, a rival-vilã que quer tirar o que lhe é por direito, o mentor que não aceita nada menos que a perfeição em seus próprios padrões...

Mas antes que achem o contrário, eu adorei o filme. É algo extraordinário, principalmente considerando o tempo em que vivemos, onde o cinema deixou de ser pura e simplesmente entretenimento, até mesmo deixou de ser uma indústria de entretenimento e transformou-se unica e verdadeiramente em uma indústria.

Continuando...

Nina tem sua grande chance de alcançar o sucesso e o primeiro lugar tão almejado quando Leroy decide aposentar a primeira bailariana anterior (interpretada por Winona Ryder). Se Nina quiser ter seu rosto estampada em cartazes e seu nome reconhecido ela precisará viver Odette e Odile, o Cisne Branco e Negro. Viver não é bem a palavra... "entregar-se à" define melhor a relação que a moça tem com os papéis.

Nina consegue facilmente dominar Odette. Elas são iguais. Puras, tácitas, presas à contemporâneidades e perfeitamente metódicas. Mas Odile se transforma em um desafio intransponível para a jovem Nina, assim como Leroy prevera antes de lhe entregar o papel. Odile é livre, sensual, uma incógnita.

Para conseguir dominar ambos os cisnes Nina terá que, assim como o próprio papel indica, transformar-se. E é nesta transição que teoricamente o filme se perde, mas felizmente acerta tiros no escuro. Nina precisa enfrentar seus medos, e mais do que isso, entregar-se à eles. Deixar-se levar por Odile e pela primeira vez na vida viver no limite, livre... e Natalie Portman faz com perfeição esta transição da Nina Branca para a Nina Negra.

Aos poucos o filme transpõe a barreira do sobrenatural e emergi o telespectador nas aflições de Nina, que acabam por se tornar nossas próprias aflições. A garota começa a ceder a toda a pressão e a super-proteção de sua mãe e os embates com o diretor são só o estopim de uma relação muito maior com Odile que forjará seu destino e drenará cada pingo de sua sanidade.

Outra peça importante na trama é Lily (Mila Kunis). A rival de Nina que é considerada perfeita para o papel de Cisne Negro por Leroy. E quando ela é escolhida para ser a substituta de Nina na peça a insegurança e o medo tomam ainda mais forma por meio de alucinações e delírios.

Falta então pouco para o fim, longe de ser imprevisível, porém perto de ser o casamento perfeito entre a trama e o desfecho.

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Black Swan não é o favorito ao Oscar deste ano, mas se algo pode ser dito com certeza é que quase tudo pode acontecer. Estou contando que não há meios de o oscar de melhor atriz não ser de Natalie Portman.

O filme deve agradar a maioria e seu clima dark pode incomodar alguns, mas nada de mais. Pode-se até dizer que a trama é arrastada e não sai da insegurança e expectativa criadas em torno da apresentação de Nina como Odile. Apresentação essa que acaba por valer a pena...

Quando o filme chega ao fim é difícil encontrar uma palavra para definir a experiência. Não vou me atrever... Qual você teria escolhido? O importante é que a fita incita pensamentos e emoções. Se ele é bom ou não é outra discussão que leva em conta muitas concepções pessoais, e por isso pouco certeiro. Mas é certo, e definitivamente é, que este filme transforma você, mesmo que durante alguns momentos em uma sala escura de cinema. E quando ele acaba você solta o ar preso nos pulmões, finalmente aliviado. O oxigênio volta ao seu cérebro e você retoma seus sentidos, antes dominados pelos Cisnes. Olhando para os lados as pessoas cochicham com medo, olham ao redor e todos se sentem decepcionados. Não com o filme em si, mas com seu fim. Acabou a tortura e você está livre para piscar, falar e pensar, aquelas coisas corriqueiras que você acaba percebendo que não fez por quase duas horas.

Até mais.

Ps. Algo interessante para se notar e comparar são as cenas finais de The Wrestler e Black Swan. Bem parecidas, não?