segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Análise - Cisne Negro

Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Mark Heiman, John McLaughlin e Andres Weinsz

Cada vez que assisto um bom filme logo fico entusiasmado para escrever sobre ele, contar minha experiência e minhas opiniões sobre ele. Mas tenho percebido que a maioria, na verdade todos eles, acabam perdendo força enquanto amadurecem em minha mente. Enquanto penso em algo para escrever acabo entendo o quão pouco tenho para falar de determinados filmes e como a vontade some em outros. Enfim... Talvez seja uma fase pouco criativa. Da minha parte ou do cinema em geral. Aí é uma questão de opinião.


Cisne Negro. Quantos filmes tem um trailer fantástico e decepcionam? Este felizmente é uma exceção. Por pouco mas é. Totalmente edificado entre clichês o filme ganha mais pelas atuações do que pela direção. Darren Aronofsky sempre foi um dos diretores que eu mais admiro no cinema atual. Desde seu debut fantástico com "PI", que debocha da capacidade da mente e da ganância, ao seu amadurecimento com o seu melhor filme (na minha humilde opinião) "Requiem for a dream", onde ele consegue unir o excesso à busca pura e simples da felicidade. E em "Requiem" ele teve, assim como em "Black Swan" uma grande ajuda do elenco. Este foi o único filme em que vi Jared Leto atuar de verdade. E nem tenho palavras para comentar as atuações de Ellen Burstyn e Jennifer Connoly. Ainda que nenhuma se compare à Nina de Natalie Portman ou ao Randy "The Ram" de Mickey Rourke (The Wrestler). E apesar de este último ser o menos impactante dos filmes de Darren ele se mostra um dos mais consistentes e consagra sua carreira excepcional.

Enfim, Darren tem talento. Mas acima de tudo tem a sorte de ter sempre um casting ótimo à sua disposição.

Crua e Visceral. Esta é a montagem que Thomas Leroy (Vincent Cassel) busca para seu Lago dos Cisnes. Nina Sayers (Natalie Portman) é uma ótima bailarina, que vive uma relação conturbada com a mãe, que no passado também foi, ou pelo menos tentou ser, uma bailarina. Movida pelo desejo de superação e pela busca do perfeccionismo Nina busca seu lugar como a prima ballerine da compania. O que poderia ser apenas mais um história sobre o cruel mundo do ballet se transforma em um triller psicótico e caótico. Tentando fazer lembrar, ou mesmo dar um "quê" de Alfred Hitchcock à trama. Sem sucesso. Darren vaga por caminhões que ele não conhece e por isso se apega aos clichês do momento: a instabilidade emocional dos personagens, a ruim relação mãe-filha, a rival-vilã que quer tirar o que lhe é por direito, o mentor que não aceita nada menos que a perfeição em seus próprios padrões...

Mas antes que achem o contrário, eu adorei o filme. É algo extraordinário, principalmente considerando o tempo em que vivemos, onde o cinema deixou de ser pura e simplesmente entretenimento, até mesmo deixou de ser uma indústria de entretenimento e transformou-se unica e verdadeiramente em uma indústria.

Continuando...

Nina tem sua grande chance de alcançar o sucesso e o primeiro lugar tão almejado quando Leroy decide aposentar a primeira bailariana anterior (interpretada por Winona Ryder). Se Nina quiser ter seu rosto estampada em cartazes e seu nome reconhecido ela precisará viver Odette e Odile, o Cisne Branco e Negro. Viver não é bem a palavra... "entregar-se à" define melhor a relação que a moça tem com os papéis.

Nina consegue facilmente dominar Odette. Elas são iguais. Puras, tácitas, presas à contemporâneidades e perfeitamente metódicas. Mas Odile se transforma em um desafio intransponível para a jovem Nina, assim como Leroy prevera antes de lhe entregar o papel. Odile é livre, sensual, uma incógnita.

Para conseguir dominar ambos os cisnes Nina terá que, assim como o próprio papel indica, transformar-se. E é nesta transição que teoricamente o filme se perde, mas felizmente acerta tiros no escuro. Nina precisa enfrentar seus medos, e mais do que isso, entregar-se à eles. Deixar-se levar por Odile e pela primeira vez na vida viver no limite, livre... e Natalie Portman faz com perfeição esta transição da Nina Branca para a Nina Negra.

Aos poucos o filme transpõe a barreira do sobrenatural e emergi o telespectador nas aflições de Nina, que acabam por se tornar nossas próprias aflições. A garota começa a ceder a toda a pressão e a super-proteção de sua mãe e os embates com o diretor são só o estopim de uma relação muito maior com Odile que forjará seu destino e drenará cada pingo de sua sanidade.

Outra peça importante na trama é Lily (Mila Kunis). A rival de Nina que é considerada perfeita para o papel de Cisne Negro por Leroy. E quando ela é escolhida para ser a substituta de Nina na peça a insegurança e o medo tomam ainda mais forma por meio de alucinações e delírios.

Falta então pouco para o fim, longe de ser imprevisível, porém perto de ser o casamento perfeito entre a trama e o desfecho.

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Black Swan não é o favorito ao Oscar deste ano, mas se algo pode ser dito com certeza é que quase tudo pode acontecer. Estou contando que não há meios de o oscar de melhor atriz não ser de Natalie Portman.

O filme deve agradar a maioria e seu clima dark pode incomodar alguns, mas nada de mais. Pode-se até dizer que a trama é arrastada e não sai da insegurança e expectativa criadas em torno da apresentação de Nina como Odile. Apresentação essa que acaba por valer a pena...

Quando o filme chega ao fim é difícil encontrar uma palavra para definir a experiência. Não vou me atrever... Qual você teria escolhido? O importante é que a fita incita pensamentos e emoções. Se ele é bom ou não é outra discussão que leva em conta muitas concepções pessoais, e por isso pouco certeiro. Mas é certo, e definitivamente é, que este filme transforma você, mesmo que durante alguns momentos em uma sala escura de cinema. E quando ele acaba você solta o ar preso nos pulmões, finalmente aliviado. O oxigênio volta ao seu cérebro e você retoma seus sentidos, antes dominados pelos Cisnes. Olhando para os lados as pessoas cochicham com medo, olham ao redor e todos se sentem decepcionados. Não com o filme em si, mas com seu fim. Acabou a tortura e você está livre para piscar, falar e pensar, aquelas coisas corriqueiras que você acaba percebendo que não fez por quase duas horas.

Até mais.

Ps. Algo interessante para se notar e comparar são as cenas finais de The Wrestler e Black Swan. Bem parecidas, não?

domingo, 5 de dezembro de 2010

Análise - A Rede Social

"You don't get to 500 million friends without making a few enemies".

Dirigido pelo excelente David Fincher, "A Rede Social" mostra desde seu início a criação da rede social Facebook e como Mark Zuckerberg se tornou o bilionário mais jovem do mundo.

O filme é, no mínimo, irônico. Mark, que conecta milhares de pessoas através do facebook, é uma pessoa extremamente só e que teria dificuldades em nomear um verdadeiro amigo.

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A primeira cena do filme é o término do namoro de Mark, e logo aí somos apresentados ao gênio solitário e prepotente que após levar um fora da namorada corre para seu dormitório em busca de redenção e vingança, combinação esta que seria o pontapé inicial para a idéia que o tornaria bilionário. Motivado por rancor e algumas bebidas ele cria o facematch.com, um site com centenas de fotos hackiadas de bancos de dados de diversas redes, onde você pode escolher a menina mais bonita. E em meio ao caos que ele incita com o site, que em poucas horas gera 22.000 visitas, Mark escreve posts rancorosos sobre como sua ex-namorada é uma idiota e tem seios pequenos.

E aos poucos o filme se mostra tanto uma biografia do jovem astro e como uma busca por um lugar comum. A fita varia entre flashbacks sobre a criação da rede social, o processo jurídico dos irmãos gêmeos e o presente, onde Mark está sendo processado por Eduardo Saverin, seu "único amigo", como o próprio se proclama.


"Todo mito da criação precisa de um diabo", diz uma advogada a Mark durante o filme.

Estar conectado é uma realidade no mundo de hoje. E o Facebook é exatamente sobre isso, quantos de vocês não estão com uma janela da rede social aberta neste exato momento enquanto lêem este post? O filme anda em dois sentidos diferentes. Em um primeiro momento Mark Zuckerberg é demais, tem tudo que sempre quis e está prestes a conquistar o mundo. Visionário e insolente. Certamente a pessoa mais feliz de todo o planeta. Porém conforme o filme avança esta visão se distorce e projetamos um novo Mark, sozinho e triste. Enquanto todos se divertem na festa de um milhão de membros do facebook lá está ele, no escritório vazio, perdido e indefeso diante das pessoas e do mundo que o cerca.

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Jesse Eisenberg, que interpreta Mark Zuckerberg, deixou de ser uma ótima surpresa em filmes para se tornar um verdadeiro astro. Mas uma boa atuação, que apesar de não ter exigido muito foi bem feita. O mesmo se aplica a Andrew Garfield, que teve um papel importante na pele de Eduardo Saverin e foi muito bem, talvez até roubando um pouco a cena de Jesse. E a grande surpresa foi a boa performance de Justin Timberlake, deste eu realmente não esperava nada; talvez tenha sido por isso.

"A Rede Social" é bem feito e tem uma trilha sonora perfeita, dissonante e moderna, e não podia ser diferente uma vez que o tema central de tudo é o facebook; e acima de tudo, não podíamos esperar menos de um filme dirigido pelo David Fincher. O roteiro, que foge um pouco da real história da criação do site, é interessante e legalzinho, convence sem cansar. Segundo Mark, ele nunca teve a tal namorada do começo do filme, e está com a mesma namorada desde antes do facebook.

Um bom filme para se passar o tempo e matar a curiosidade sobre o personagem  que é Mark Zuckerberg e sobre a rede social mais usada no mundo.

Até mais.

sábado, 27 de novembro de 2010

Direção: David Yates
Roteiro: Steve Kloves


Após seis filmes que variaram entre o lastimável e razoável finalmente nós fãs de Harry Potter, que acompanhamos todos os livros, choramos com a morte do Sirius, odiamos a megera Umbridge e torcemos pela Grifinória em cada jogo de quadribol, pudemos sair do cinema após uma sessão do filme, respirar fundo e pensar: valeu a pena.

Ao contrário de todos os antecessores "Relíquias  da Morte" é idêntico ao livro, claro que uma parte ou outra saiu diferente, algumas mudanças totalmente desnecessárias, mas no geral mudanças estrondosamente aquém do que estamos acostumados na franquia.

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Harry, Rony e Hermione tem uma missão que não podem compartilhar com ninguém. Encontrar as Horcruxes, pedaços da alma de Você-Sabe-Quem, e destruir cada uma. Como destruí-las e aonde procurá-las? Estas são perguntas cujas respostas eles gostariam de ter. Sem a proteção de Dumbledore e com o mundo bruxo a mercê de Voldemort nem mesmo Hogwarts foi capaz de resistir ao comensais da morte. E como a trama sugere este filme tem um tom bem mais sombrio do que estamos acostumados a ver nos filmes da franquia Harry Potter.

Harry estar prestes de chegar a maioridade e então estará livre do rastreador, que o mantém sob os olhos do ministério da magia, logo sob os olhos de Voldermort e seus comensais. O problema de ser maior de idade é que com isso a proteção mágica de sua mãe também cederá e a casa dos Dursley já não será um lugar seguro para ninguém.

Dumbledore treinou Harry durante seis anos para aquele momento. Porém o garoto mal tinha consciência do que estava por vir junto a sua busca pelas horcruxes. Hogwarts é passado e o futuro depende dele e de seus amigos. Finalizar a missão que Dumbledore lhe concedeu é a última esperança, mesmo com todas as dúvidas que surgirão e com a desconfiança que cresce a medida que Harry descobre cada vez mais do passado nem tão claro do tutor.

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O filme isoladamente não é um grande objeto de entretenimento. Porém como parte de um todo é a abertura perfeita para o verdadeiro último filme que trará toda a ação do livro e fecha um ciclo de sete livros e oito filmes. Se você não leu todos os livros certamente se surpreenderá com a importância de alguns personagens como Dobby e Mundungo que sempre tiveram papéis importantes nos livros mas que foram totalmente esquecidos pelas adaptações cinematográficas. Por isso aos mais leigos em HP suas aparições em momentos críticos devem parecer mais capricho do que fidelidade.

David Yates deu um jeito em Harry Potter, que capengava após o quarto filme, um dos piores que tive o prazer de assistir. A partir de sua direção em "A Ordem da Fênix" a franquia mostrou que bem dirigida podia ir longe. Com ambientes mais sombrios e temas mais adultos as cenas passaram de brincadeiras baseadas em um livro infanto-juvenil para um filme que realmente mexia com o espectador, com suas emoções e suas sensações. A trilha sonora e fotografia são shows a parte e por si só valem o ingresso. Colorido em algumas cenas, monocromático em outros o filme nos guia por florestas e cidades com naturalidade e grandiosidade. E quando eu digo que esta trilha sonora é ótima não é brincadeira. Alexandre Desplat consegue com sua trilha tirar de nossas cabeças aquelas músicas fantasiosas e em alguns momentos infantis que rechearam os filmes de Harry Potter, trazendo algo mais adulto ao filme. Um trailer da trilha sonora você pode conferir aqui. Vale a pena clicar assim que terminar de ler o post!

A dinâmica deste filme também é muito diferente do que estamos acostumados. Não vemos Harry, Rony e Hermione estudando poções e defesa contra as artes das trevas enquanto nos intervalos combatem Lord Voldemort. Desde o começo os três amigos estão no mundo real, longe de barreiras mágicas e professores, lidando com novas decepções que não uma nota ruim n'um trabalho de adivinhação.  E esta fita foca muito mais a história e prepara o terreno para a grande batalha final do que mostra cenas de ação e combates. O que pode frustar alguns fãs da franquia hollywoodiana que não tem como base a história de J.K. Rowling.

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Um bom começo para a parte dois de "Relíquias da Morte", que em julho do ano que vem deve se tornar o melhor filme da franquia, aí sim, finalmente marcando o final de Harry Potter.

Quando terminei de ler o último livro em 2007 ainda havia o consolo de que outros filmes chegariam e preencheriam o vazio deixado na última página de "Harry Potter e as Relíquias da Morte". Mas e agora?

A morte é apenas uma travessia do mundo, tal como os amigos que atravessam o mar e permanecem vivos uns nos outros. Porque sentem necessidade de estar presentes, para amar e viver o que é onipresente. Nesse espelho divino vêem-se face a face; e sua conversa é livre e pura. Este é o consolo dos amigos e embora se diga que morrem, sua amizade e convívio estão, no melhor sentido, sempre presentes, porque são imortais.
William Penn, More Fruits of Solitude 

Até mais.

domingo, 14 de novembro de 2010

Análise - Tropa de Elite 2

Nossa.. não fosse a data da última postagem eu nem me lembraria quando foi a última vez que escrevi aqui. Devo isso a faculdade e ao trabalho que vêm consumindo todos os minutos e segundos da minha preciosa vida, mas enfim... tenho mais uma semana de aulas na faculdade, só de provas, e se passar, estarei formado e ganharei muito tempo para fazer tudo que não venho fazendo. Agora eu deveria estar estudando pagamentos internacionais, mas este post está em edição há um mês, vamos terminar...

Direção: José Padilha
Roteiro: Bráulio Mantovani

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Em 2010 o Capitão Nascimento tem um novo inimigo, as favelas do Rio de Janeiro não estão mais inundadas de drogas e traficantes, mas sim de policiais corruptos, o grande vilão deste filme são as Milicias e o próprio sistema.

Com alguns bons planos, ótimos diálogos e (mais) uma interpretação magnífica do incontestável Wagner Moura, "Tropa de Elite 2" é o must see nacional deste ano, ao lado de outros ótimos títulos como "As melhores coisas do mundo".

"Qualquer semelhança com a realidade é apenas uma coincidência. Essa é uma obra de ficção".

Se é assim, então está bem. Certo?


O filme se passa dez anos após o fim do primeiro filme, quando nascimento é deixado por sua esposa e com isso sua luta para sair do esquadrão se encerra, dando lugar ao conformismo. Logo no início do filme o diretor José Padilha e o roteirista Bráulio Mantovani nos mostram uma ação realizado no presídio Bangu I pelo BOPE, que acabou com a morte de inúmeros presidiários e trouxe péssimas repercussões políticas; e por isso o Coronel Nascimento e o Capitão Mathias, os dois encarregados pela ação são punidos, porém de maneiras distintas. Mathias é expulso do BOPE, e Nascimento é promovido a Sub-secretário de Inteligência do Estado. Estranho, não? Porém eficaz, ambos estavam fora do BOPE que era exatamente o que o Governador do Rio de Janeiro queria. Porém em seu novo cargo Nascimento transforma o esquadrão caveira, que passa de uma divisão abandonada para uma máquina de guerra contra o tráfico de drogas, com direito a helicópteros e tudo mais. 


O Capitão Nascimento foi um dos personagens mais interessantes que tive a oportunidade de ver na história recente do cinema nacional, denso e pesado, porém um ser humano, fascista ou não, ai é uma questão de opinião; conseguimos perceber (muito disso pela ótima atuação de Wagner Moura) um pai perdido e que ama seu filho, que sente a perda da mulher e que procura a todo custo uma válvula de escape, um lugar seguro onde pode viver sua vida, e o lugar seguro para ele são os morros, as incursões às favelas e a tensão diária da vida de um policial.

E a frente desta máquina de guerra o Sub-secretário Nascimento limpa as favelas, o tráfico inexiste e passa a uma realidade passada nas favelas do RJ, porém a sensação de dever cumprido começa a se extinguir no momento que Nascimento se vê a frente de um novo inimigo, muito mais inteligente, muito mais influente e que até o momento ele nunca havia precisado enfrentar, políticos corruptos e milícias.

Um filme profundo que mostra um novo Nascimento, desde a relação paternal com seu filho às conversas frias com sua ex-mulher, até mesmo uma pitada de ciúmes de seu novo marido, com quem ele tem uma estranha relação que durante o filme passa de ódio mútuo à necessidade mútua.

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O filme é a sequência perfeita, tão sútil quando uma metralhadora, a história passa para outro nível neste segundo filme, enquanto no primeiro víamos Nascimento sempre em sua farda preta, um verdadeiro algoz subindo os morros da favela, então pensávamos que estava tudo bem, ele havia chego e todo o mal se dissiparia. Em contrapartida, este segundo filme apresenta um novo Nascimento, engravatado, acuado em meio aos verdadeiros inimigos, no topo daquele edifício, que poderia bem ser um presidio, tanto são os criminosos que lá estão.

Se o medo de o segundo filme não corresponder as expectativas do público devido ao sucesso do primeiro filme existia, agora inexiste. Uma direção quase impecável e um roteiro bem escrito, cheio de frases de efeito, que foi um dos motivos do sucesso do primeiro filme, "Tropa de Elite 2" vai além quando pensamos em filmes nacionais, e ainda mais quando segmentamos o gênero ação.

A idéia do segundo filme vai na contramão do primeiro. Não vamos mostrar a sociedade que se afunda em drogas e no desespero, mas o sistema que a molda.

Se há ainda na sociedade a capacidade de extrair coisas boas da arte e cultura e de se sentar no sofá ao fim de um longo dia e refletir sobre o mundo e sobre as pessoas, há nessas pessoas um pouco do espírito de "Tropa de Elite 2".

Até mais, certamente menos de quatro meses.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Um dos filmes mais esperados do ano é "Tropa de Elite 2". Seu antecessor de 2007 foi um verdadeiro caos, tanto cinematográficamente quanto culturalmente, foi uma revolução no modo de se fazer cinema no Brasil e um passo a frente no modo como assistimos um filme, enfim... bom ou ruim não é a questão, gostar ou não é uma opção, mas é inegável que a fita tem um algo a mais, um quê de classicismo dispensado e um outro de filme nacional padrão.


Dito isto, vamos falar um pouco sobre "Rota Comando", o filme sobre a Tropa de elite de São Paulo, um dos piores filmes que já vi na minha curta vida, ou seria longa vida? Questão de ponto de vista.

O cinema nada mais é do que a degustação dos sentimentos que um determinado filme proporciona, e com os dois filmes objetos do post pude presenciar distintas emoções. Com "Tropa de Elite" me senti chocado, desafiado e quando a fita finalmente acaba mau consigo respirar, com medo de que minha respiração perplexa e arrastada pudesse me fazer perder algum momento importante ao qual eu nunca mais teria acesso (a não ser que voltasse o filme!). Ahhh, como é bom assistir à um filme e sentir-se assim, não estou comparando, mas um dos últimos filmes que me provocou tanto assim foi o ótimo "A Ilha do medo", já comentado no blog. Como eu ia dizendo, é muito bom assistir um filme que lhe provoque as mais diversas sensações, um filme cuja fotografia é magistral e mesmo assim consegue passar despercebida perante a grandiosidade do todo, não dá para apenas dizer, a fotografia é boa, muitos podem achar que passou dos limites, mas para o cinema os limites inexistem, ao contrário das pessoas.

Bom.. acho que deu para entender que gostei de "Tropa de Elite", não deu? Mas e "Rota Comando"? O que posso dizer é que quando o filme acabou, suas mais de 2 horas, me senti chocado também e não puder conter algumas risadas e uma sensação incômoda de que eu havia perdido algumas horas preciosas que eu nunca mais teria de volta, mas para saber se algo vale a pena ou não só assistindo, certo?

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Lá estava eu, andando na locadora em meio a milhares de opções, quando o tal "Rota Comando" me chama a atenção, um filme independente (mais liberdade, porém menos verba) sobre a Rota, impossível conter os flashes de "Tropa de Elite" na minha cabeça, resolvi dar uma chance, já haviam me falado sobre algumas cenas, que eram fortes e tudo mais... Não me lembro muito bem de quem me disse isso, mas essa pessoa é, no mínimo, uma fanfarrona. Filme chato, sem história, sem verba, sem atores e lotados de clichês mal feitos.

Uma vez me disseram que a narração no cinema é fruto da preguiça de roteiristas, que não conseguem dizer as coisas através de cenas e atos e apenas fazem um personagem qualquer narrar uma idéia central; nunca acreditei nisso, acredito que há narrações e narrações, "Tropa de Elite" não seria o mesmo sem a voz úmida e grave do Capitão Nascimento narrando algumas de suas cenas e pensamentos, o mesmo se aplica para "Zumbilândia" (um dos melhores filmes que vi neste ano), como ensinar as regras de sobrevivência sem uma narrativa? Narrativas são envolventes se bem feitas. Mas como eu disse, há narrações e "narrações, e o que vi em "Rota Comando" foi uma das piores que já vi, sem sentido e sem um fim plausível, atrapalharam o filme, não ajudaram nem um pouco na compreensão da história, preciso dizer que este roteirista não era preguiçoso, apenas ruim.

Mas o que "Tropa de Elite" tem que "Rota Comando" não tem? Uma música boa (só para começar?).

Chegou a Tropa de Elite, osso duro de roer
Pega um pega geral, e também vai pegar você
Tropa de Elite, osso duro de roer
Pega um pega geral, e também vai pegar você

Chega pra lá, chega pra lá
Tô chegando e vou passar
Cheguei de repente, vai ser diferente
Sai da minha frente
Sai da minha frente meu irmão, não
Não vem com isso não
Tô chegando é de ladrão
Porque quando eu pego eu levo na mão
Não mando recado vou na contramão

E agora...

Matar ou Morrer
Matar ou Morrer
Quando os homens disparam
Matar ou Morrer
Matar ou Morrer
Os anjos se calam

Rota Comando agora
A morte está rondando

"Mão na cabeça filho da puta!"

Os homens disparam
Matar ou Morrer
Matar ou Morrer
Os anjos se calam

Eu, particularmente, gostava do Paulo Ricardo (no RPM), mas esta música do filma da Rota lembrou mais o BBB do que remeteu à ótima canção do Tihuana e ao filme do Bope.


Até agora eu me pergunto quem era realmente o protagonista de "Rota Comando", você sabe? A fita apresenta uma infinidade de personagens, mas não se aprofunda em nenhum, a trama começa de um jeito e acaba de outro, e nem de longe tem uma grande performance como a de Wagner Moura e nem de muito longe tem uma presença e uma cara própria. 

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Relendo algumas coisas que escrevi neste post pude perceber uma certa revolta, e acabei fazendo muito algo que não gosto muito, criticar um filme tendo outro como base, peço desculpas, mas não é possível não traçar um paralelo entre os dois filmes, principalmente quando a intenção de um copiar e tirar uma lasca do sucesso do outro é escandalosamente nítida. 

Chato e indigno de uma análise complexa, não é necessário muito senso crítico para desgostar de "Rota Comando", esta é a minha opinião.

Vou parar o post por aqui, melhor.

"Tropa de Elite 2" estréia em outubro, tenho certeza que vou me decepcionar com ele (não porque ele será ruim, mas minha expectativa já está muito grande para ser correspondida), enquanto ele não estréia aconselho vocês a não assistirem "Rota Comando", se mesmo assim assistirem, bom... sempre vale a pena dar risada.

Até mais.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Análise - Um Olhar do Paraíso

Olá. Mais de um mês sem postar, eu sei. Mas a vida de trabalhador e estudante é um tanto quanto corrida.

Direção: Peter Jackson


Uns dias atrás fui a locadora e peguei "Um olhar do paraíso". Desde a época em que ele estava no cinema sinto um comichão para ver este filme, e no final das contas não foi nada demais. Mais uma vez culpa da minha expectativa? Ou será o filme abaixo do que o elenco e diretor insinuam?

A história:

A família Salmon é apenas mais uma. Tudo vai bem para eles, até o dia em que sua filha mais velha, Susie (Saoirse Ronan) é brutalmente assassinada e não há pistas do assassino. O pai começa uma corrida contra tudo e todos afim de encontrar o responsável pela sua perda, a mãe sem o consolo e o apoio do marido foge sabe-se lá para onde deixando os outros dois filhos com sua mãe e marido (ex-marido?). E enquanto as coisas desmoronam ao redor da família Salmon, a jovem Susie observa tudo de um estranho lugar, entre o céu e a terra. Ela está decidida a ajudar o pai a encontrar seu assassino, que vive logo na casa ao lado.

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O filme bem feito, tem efeitos ótimos, uma trilha excepcional, a fotografia é digna de um Oscar, mas a história e a direção são cansativas. O modo como momentos cômicos e tensos são entrelaçados é ridículo, muito abaixo do diretor da trilogia "Senhor dos anéis". O roteiro tem uma certa pretensão mas falha muito e pouco conta durante as mais de duas horas de filme, que eu apenas aguentei devido a belíssima fotografia que é a melhor coisa deste filme. O diretor de fotografia, Andrew Lesnie, conseguiu com ótimos momentos nos transportar para algumas cenas, e ele acerta tanto no drama terreno quanto na segunda trama que se passa em um plano celestial.

A fita é recheada de clichês desde o começo "família feliz" até o final "trágico", o ponto alto do filme, tanto para o bem quanto para o mal é o assassino, Stanley Tucci. Um personagem mau escrito e com um perfil mais manjado que a bilheteria do Crepúsculo, mas que apesar disso foi representado de forma magistral por Stanley. E já que estamos falando de boas atuações, deixo um parabéns especial a jovem Saoirse, que fez um ótimo papel (mais uma vez), ela já havia participado do elenco de "Desejo e Reparação".

O filme faz de tudo para tirar sua própria credibilidade. Temos, por exemplo, uma cena em que Susie se queixa para sua avó sobre seu amor platônico, Ray, um garoto de sua escola, que segundo a própria "nem sequer sabe de sua existência. Tudo isso para cinco minutos depois vermos ele se declarando, do nada, para a garota (??????).

A forma como o assassinato de Susie acontece também é pouco digno de aplausos. A fita nos mostra um assassino meticuloso e inteligente que deixa milhares de rastros de seu crime, e o pior de tudo, Peter (o diretor) faz de tudo para que a policia não perceba tais pistas, deixando para o pai, com a ajuda espiritual da filha, o trabalho de acabar com o mistério.

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Infelizmente o diretor, Peter Jackson, tentou muito acertar que acabou pecando nos mais sutis pontos. Ele se deixou levar pelo roteiro fraco e transformou um filme que tinha um ótimo potencial em um drama familiar de um lado e um thriller policial pífio do outro. Eu, sinceramente, gostaria de ter mais o que falar sobre o filme, mas os erros são poucos e constantes e os acertos praticamente inexistem, então, melhor encerrar e esperar por filmes melhores.

Até mais.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Análise - Utopia e Barbárie

"Utopia e Barbárie" é o tipo de documentário que fica na cabeça por horas após acabar. Que permanece em sua mente durante alguns dias e o qual você discute assiduamente sobre com amigos no bar. Este projeto que levou 19 anos para ser concluído é o mix de trabalho duro e dedicação de Silvio Tendler e chegou mês passado aos cinemas.



A primeira coisa que o documentário faz é nos situar. Começamos com imagens do bombardeio nuclear em Hiroshima, imagens e fotos da catastofre seguem e somos apresentados a alguns depoimentos sobre a Segunda Guerra Mundial, nada gigantesco, o necessário para sabermos mais para frente por onde começou a projeção, que narra através de cerca de duas horas uma viagem através das utopias e suas respectivas barbáries pós-segunda guerra, pois utopia e barbárie são faces da mesma moeda, diz a fita.

Não há Utopia que não seja seguida de Barbárie, e para provar tal ponto somos apresentados a diversos movimentos que ocorreram nas últimas décadas e a uma geração que tentou mudar o mundo através de ideias e armas, que encheu as ruas em maio de 67, ou que tramaram contra a Ditadura Militar Brasil, e aos poucos somos até mesmo questionados sobre a nossa geração. Quais nossos ideiais? Pois bem... Pense em algo que você gostaria de mudar no mundo... Pensou? Bom, agora pense sobre o que você está fazendo para mudar isso...

Misturando cenas reais e trechos de filmes o documentário faz um paralelo sobre diversos conflitos, suas causas e resoluções. Desde a Guerra do Vietnã  e a queda do muro de Berlim ao conflito entre Argélia e França. A fita é repleta de entrevistas com personagens que vivenciaram os conflitos, como por exemplo o General vietnamita e estrategista Giap, hoje com 94 anos, que derrotou os franceses em 1954 e os americanos em 1970.

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Díficil comentar sobre uma obra tão profunda e pessoal. Certamente o documentário apresenta uma visão tendenciosa esquerdista de seu diretor, mas nem por isso deixa de lado os relatos e fatos históricos, apresenta ao espectador os fatos, aí cabe a cada um processá-los da maneira que preferir.

Um fato interessante do documentário é a utilização de trechos de filmes para ilustrar algumas idéias, como por exemplo "Setembro Chileno" e "Invasões Barbaras", o primeiro sobre a tomada do poder por Pinochet e o segundo sobre um grupo intelectual de amigos, o documentário mostra uns trechos de conversas entre eles sobre os conflitos pelos quais eles "acompanharam" de longe, através de livros e filmes.

Mas nem só de boas coisas é feito o documentário, que tem uma montagem meio cansativa, na minha opinião, bom, são mais de 50 anos de história espremidos nos 120 minutos de filme, talvez algo mais objetivo e direcionado cansasse menos, mas nada que tire o mérito da obra. Outro ponto é a parte final, sobre o conflito no oriente médio... não que não seja pertinente, mas talvez por falta de um melhor ponto de encontro com o restante da projeção tenha ficado um tanto quanto entediante.

Como eu disse, "Utopia e Barbárie" é tendencioso e algumas vezes cansativo, mas nada disso apaga o fato de ser um relato histórico bom, que acerta principalmente em relatar as diversas faces de uma geração que queria mudar o mundo com suas próprias mãos e não mediu esforços nesta tentativa, seja pela luta armada ou pelas negociações menos radicais, e tais atos são estranhos a nós mais jovens, o fervor de algumas entrevistas surpreende. Somos tão alienados, nossas principais preocupações parecem banais ao fim do documentário, e nossa geração fraca e fora de compasso, desunida talvez. "Mas estamos em um mundo muito mais pacífico", alguns dirão, será? Será que o mundo se tornou um lugar mais pacífico onde o ser humano é finalmente respeitado ou nós que fomos cegados pela globalização? Enquanto estas perguntas não são respondidas o melhor a fazer é twittar, certo?

Até mais.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Me conformar

Não quero me conformar,
Não quero cortar minhas próprias asas e apenas imaginar como seria voar
Quero mais do que tenho mas menos do que sonho,
Eu quero enfim deixar de ser apenas mais um a imaginar como seria...
Não quero ouvir o despertador e pensar "Ahh, mais um dia para trabalhar", mas sim "Ahh, pelo menos eu sou feliz"
Mais um dia para me conformar, afinal, de que adiantam as escolhas se no fim vamos sempre nos perguntar: e se...?

Átila Alexandre Ferreira