quarta-feira, 21 de abril de 2010

Análise - AntiCristo

"Anticrist" da Lars Von Trier está acima de qualquer crítica. Ele é chocante, horrendo e perturbador.




É díficil encontrar palavras para descrever o filme, não porque ele seja muito bom ou muito ruim, é porque ele é muito profundo, aborda temas atemporais e surge rapidamente como um choque mental e um desafio aos nervos do telespectador. Totalmente frio o filme desrespeita o espectador até o próprio sentir-se tentado a abandonar o filme, e tenho certeza que muitos o fizeram, não os culpo, até agora me pergunto como pude me permitir assistir todo o filme, mas digo uma coisa, ao fim do filme a sensação de vitória é doce e está além de discussão. Se você espera divertir-se e passar bons momentos enquanto assiste a um filme, escolha outro filme.

Fotografado de forma magistral por Antony Dod Mantle o filme é quase uma ode à figura feminina, podemos também chamar de um porn-torture, mesclando cenas eróticas com tortuosas cenas que chocariam o mais insensível ser humano. E chocar é certamente a palavra que define a concepção do filme. Seja pela falta de pudor ou pelo simples diálogo entre marido e  mulher a fita vai por caminhos obscuros sempre mantendo o clima de tensão, nunca sabemos o que vai acontecer, e nem sequer nos damos ao trabalho de tentar adivinhar, pode ter certeza de que qualquer coisa ruim que você possa imaginar que vá acontecer vai acabar sendo pior.

A história:

O começo do filme é de tirar o fôlego. A fita é dividida em 5 capítulos, bem peculiar de Lars: Prólogo, Luto, Dor (O caos reina), Desespero (Ginocídio), Os três mendigos e fechando o filme o Epílogo. Antes que possam estranhar a palavra Ginocídio, é como o diretor se refere ao genocídio feminino. Bom, voltando ao começo do filme. Logo no prólogo (que deve durar uns 10 minutos, talvez menos, impossível a medição do tempo enquanto assistimos este filme) nos deparamos com uma das melhores cenas em time lapse que já tive o prazer de presenciar. Enquanto o casal sem nome (interpretados por Williem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, esta vencedora de premio de melhor atriz no festival de cannes com este filme) mantém relações, o filho do casal se levanta no meio da noite e pula da janela, deste jeito morrendo. Isto ao som de Lascia Ch'io Pianga da ópera Rinaldo de Georg Friedrich Händel. E está é a única música do filme, que utiliza dos sons amedrontadores durante todo a fita para dar ritmo a trama, com exceção deste prólogo e do epílogo que são acompanhados da citada música.

Quando o filho do casal morre a mulher, uma intelectual escritora, entra em uma profunda depressão diante da culpa que sente. Ela acredita que foi a culpada pela morte do filho e não consegue deixar para trás as feridas. Por outro lado, seu marido, um psicanalista parece nem sentir a morte do filho, preocupado apenas em cuidar da mulher, "sua mais nova paciente" como a mesma se auto-denomina. Convencido de que a melhor maneira para a mulher deixar estes fantasmas no passado, e ter uma vida saudável novamente, é enfrentar seus medos ele decide levar a mulher ao Éden, uma casa deles no meio da mata, lugar pelo qual ela sente mais medo de ir.

E é no Éden que eles se deparam com seus tormentos, "A igreja de Satanás", como o próprio filme define. O que acontece naquela cabaninha no meio da mata é algo que eu nunca teria coragem de escrever aqui, é algo que você assiste e guarda para sempre em sua memória, mas nunca diz. E por mais pertubardor que pareça, é lindo. O filme inteiro é lindo. Temos uma cena de uma raposa dilacerada proclamando a todos: O caos reina! Ao melhor estilo de "O albergue" o filme nos dirige de forma inconsciente aos nossos próprios medos e aflições, é praticamente uma viagem dilacerável ao interior de cada um de nós.

No meio de todo o caos e loucura que a mata traz aos personagens, os deixando expostos aos próprios sentidos e instintos, nos vemos diante de atuações memoráveis, e não só as atuações, todo o clima que paira durante todo o filme, que parece se intensificar em algumas partes e fazer escorrer o medo dando lugar ao interesse e a admiração. 

Partindo do pré-suposto de que Satanás criou toda a natureza "Anticristo" proporciona momentos únicos aos espectadores, e além de tais momentos ele proporciona a reflexão tão pouco usual hoje no cinema contemporâneo. 

"Uma mulher que chora é uma mulher traiçoeira", diz a personagem de Charlotte já no fim do filme. Quer mais reflexão que isso?

Antes de finalizar, só me darei o direito de comentar o Epílogo, uma cena desconexa onde aparecem inúmeras mulheres dando sentido a palavra Ginocídio e incitando ainda mais o pensamento sobre o filme, e definindo de forma mais marcante as intenções do diretor, se é que isso é possível,. Será mesmo a natureza humana má?

Boas reflexões, até mais.

2 Comments:

  1. Franciane said...
    Nossa esse filme com certeza explora nosso psicológico.
    Eu não gostei, não é um estilo de filme que me prende.
    Realmente, se a pessoa estiver afim de se divertir, ou até mesmo ver um filme de terror, não assista AntiCristo.
    E se for assistir, nada de assistir com a familia na sala (igual eu haha) Muita pornografia! Sexo explicíto mesmo.

    Adorei seu blog
    Bjkas
    Mariana Montilha said...
    queria ver esse filme... o problema é a coragem ><

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